17 de janeiro de 2009

Eu tenho um gosto especial por ler coisas com que me identifique, como quando você pensa “nossa, eu também acho isso” ou “já tinha pensado nisso também”. Essas situações aproximam você de pessoas, de um filme e de livros também.

E eu sempre tenho esses pensamentos quando leio Mário Prata, que trata de assuntos cotidianos de um modo que impele você a pensar do mesmo jeito nas suas situações cotidianas. Isso acontece tanto com as suas famosas crônicas quanto com os livros.

Aproveitando que foi tocado no assunto da reforma ortográfica, achei interessante indicar um livro dele que se encaixa nessa temática: SCHIFAIZFAVOIRE.


O livro, de 1993, tem o formato de um dicionário e contém algumas palavras utilizadas pelos portugueses que para nós soam como, literalmente, de outra língua, além daquelas que possuem a mesma grafia e significados totalmente diferentes.

O diferencial é que as palavras vêm acompanhadas de comentários do autor, cheios de bom humor e aplicações reais, assim como as ilustrações que permeiam alguns verbetes.

Destaco aqui alguns trechos e no site oficial de Mário Prata http://www.marioprataonline.com.br/ é possível visualizar o livro completo.


BANHEIRO

Jamais, em momento algum, diga que quer ir a um banheiro. Dizer isto, significa que você quer ir ao encontro do SALVA-VIDAS, aquele que fica na praia de camiseta branca com uma cruz vermelha no peito. E, se for mulher, a salva-vidas atende pelo sugestivo nome de Banheira.

CASAL

Não tem nada a ver com marido e mulher. Por exemplo, o famoso vinho Casal Garcia, não é feito por um casal, mas sim numa PEQUENA PROPRIEDADE, numa Pequena Quinta. É que eles sempre colocavam um casal para tomar conta, os caseiros, daí o nome.

DIGRESSÃO

Se você ler no jornal que o grupo Madredeus vai fazer uma digressão pelo Brasil, não perca. Sào excelentes e você não pode perder esta TURNÊ.

MONSTROS

Outro dia a Câmara Municipal de Cascais mandou um comunicado a todos os moradores pedindo:


Vimos informar que pelo 30º artigo do novo REGULAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS PARA O MUNICÍPIO DE CASCAIS, que entrou em vigor desde o dia 5 de Setembro, "E PROIBIDO, SEM PREVIAMENTE O SOLICITAR AOS SERVIÇOS E OBTER CONFIRMAÇÀO DE QUE SE REALIZA A SUA REMOÇÃO, COLOCAR MONSTROS OU RESÍDUOS DE CORTES DE JARDINS EM QUALQUER LOCAL DO MUNICÍPIO",


pois poderiam levar uma coima alta. Monstros, nada mais é do que os ENTULHOS, objetos velhos, eletrodomésticos estragados, colchões arrebentados, etc.

REALIZADOR

Outra influência cultural francesa. Realizador é o DIRETOR de cinema, teatro, televisão, etc. Le realizateur. Não existe nada mais presunçoso do que um realizador português.


Espero que gostem!

Abraço

Katrym

11 de janeiro de 2009

O (Des) Acordo Gramatical

 

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

Fado Tropical
Chico Buarque e Ruy Guerra

 

     O fragmento acima do poema “Fado tropical” de 1972, fruto da parceria entre Chico Buarque e o moçambicano Ruy Guerra, é uma referência a então recém deflagrada revolução dos cravos, movimento que livrou Portugal de uma sangrenta ditadura militar. Os autores referem-se à esperança de que o Brasil também se livrasse dos militares que ainda detinham o poder na Terra Brasilis.

     Foi nessa letra de música que lembrei quando surgiram as primeiras discussões sobre o acordo ortográfico. Lembrei porque uma das críticas vindas além mar sobre o acordo é justamente o contrário do que diz a letra,ou seja, alguns portugueses se queixam, alegando que a reforma os impõe um português “abrasileirado” apoiados no fato da reforma atingir três vezes mais palavras na ortografia lusitana do que na nossa.

     Há 36 anos os brasileiros queriam “aportuguesar” nosso governo, evidente que as esferas da política e da língua são diferentes, porém é curioso notar que o desejo por melhoras não afetava a nacionalidade brasileira, não era vergonha nenhuma para o povo brasileiro tomar uma atitude ou até mesmo pensar como os portugueses.

     O que chama atenção nas críticas vindas de Portugal em relação ao acordo é o notório orgulho lusitano e o sentimento de proprietários da língua. Alguns portugueses sentem se feridos por terem que adotar novas grafias “impostas” pelo Brasil, num pensamento de pura nostalgia: o orgulho da metrópole está (ou “esta”?) sendo ferido, a colônia insolente está se rebelando através da língua!

     Talvez o caráter romântico, muitas vezes físico de alguns escritores e poetas portugueses em relação à língua motivem esse ciúme às mudanças propostas pelo Brasil. Em 1911, Fernando Pessoa não gostou nem um pouco da reforma ortográfica unilateral que Portugal realizou, em relação à mudança de “cysne” por “cisne” ele disse: “Vou continuar a escrever com y, porque me lembra o pescoço do animal”. Manifestações como essa ainda existem quase cem anos depois, contudo não são desculpa para reações tão passionais e ufanistas que de quebra, ainda deixam a vista certo ar de mágoa antiga da nossa Terra de Santa Cruz.

     O único escritor de língua portuguesa a receber um prêmio Nobel de literatura, o Português José Saramago manifestou-se da seguinte forma: “Já fui contra, porém o Brasil tem um papel fundamental nesse cenário, o que me levou a mudar de idéia foi o problema da escrita. Se o português quer ganhar influência no mundo, tem de apresentar-se com uma grafia única. O Brasil tem no contexto internacional uma presença que nós [portugueses] não temos.”

     Todos têm o direito de expressar sua opinião no contexto do tema e sobre a sua necessidade, o problema é que a discussão sobre a reforma ortográfica está saindo do domínio gramatical e transformando-se em um arranca-rabo (ou arrancarrabo?) de egos patrióticos. E por falar em patriotismo, se tivessem dado ouvidos a Policarpo Quaresma, estaríamos brigando (ainda mais) com os índios pela soberania do Tupi-Guarani?

 

Kleber Bordinhão

5 de janeiro de 2009

Escrito de Liberdade

‘Libertação’, conceito definitivo nos estudos do educador Paulo Freire e prática pedagógica destacada no filme Escritores da Liberdade (Freedom Writers, EUA, 2007). Baseado na dura realidade racial e educacional do país, a obra do diretor Richard Lagravenese, o filme Escritores da Liberdade, ressalta, consideravelmente, a educação libertadora e sua primordial importância e efeito.


O professor não é o foco da educação, como de praxe. O aluno é o foco, é o centro para quem é direcionada a prática pedagógica. O ensino-aprendizagem vem acompanhado do exercício da libertação que deve, imprescindivelmente, ser feito de maneira contextualizada.


O potencial de leitura do mundo (FREIRE, Paulo. 1980. p. 40) deve ser ampliado não somente no aluno, mas no professor. O docente deve conhecer a realidade social em que o aluno está inserido, interpretá-la e refletir sobre a relatividade da avaliação. A sala de aula faz diferença na vida do aluno, ou pelo menos deveria fazer.


Mas como realizar esta tarefa minuciosa sem subterfúgios e com carga-horária excessiva distribuída aos profissionais da rede pública? A professora Erin Gruwell, representada pela atriz Hilary Swank, consegue. Abre mão da família e de todo o tempo que lhe sobra extraclasse em prol da “salvação” da esperança de seus alunos.


O aluno não é uma ‘tabula rasa ’, portanto a educação não deve ser bancária (FREIRE, Paulo. 1980 p.21). Muitos dos estudantes buscam na escola uma evasão da realidade. Buscam um lugar onde suas esperanças não sejam sufocadas pelas tragédias diárias.


Como lidar com isso? A senhorita “G” descobre varias saídas. Ela faz a escolha dos textos a serem estudados em relação ao cotidiano do aluno, alcança a aprendizagem significativa e salva seus alunos de “se ajoelharem no milho”. A educação libertadora é possível. Porém, raramente encontrar-se-á profissionais dispostos a tal.


Ser professor não é apenas mais uma profissão; é humanização.

Vai aí uma sugestao de filme que vale a pena ver: Escritores da liberdade!


Ana Carla Vieira Bellon


Ficha Técnica

Título: Escritores da Liberdade
Título Original: Freedom Writers
Gênero: Suspense
Pais/Ano: Alemanha, EUA / 2006
Diretor: Richard LaGravenese
Produção: Danny DeVito, Michael Shamberg, Stacey Sher
Roteiro: Richard LaGravenese
Fotografia: Jim Denault
Trilha Sonora: Mark Isham, RZA
Estúdio: Paramount Pictures
Distribuição: Paramount Home Entertainment
Duração/Censura: 123 min / 0
Data Cinema: 05/01/2007
Elenco: Hilary Swank, Pat Carroll, Patrick Dempsey, Jason Finn, Scott Glenn, David Goldsmith, Kristin Herrera, Blake Hightower, John Benjamin Hickey, Will Morales