30 de maio de 2010

À vista ou parcelado: um novo gênero para o cinema

A adaptação de Quincas Berro d´a Água é um dos exemplos da disseminação da literatura pelo cinema.

Bruno Scuissiatto


O cinema enquanto expressiva produção artística é um dos principais disseminadores da cultura mundo afora. Basta ligar a televisão nas noites de sábado ou mesmo durante dias da semana para perceber o estreito relacionamento das produções com o mundo contemporâneo. Atualmente os filmes além de preencher todos os requisitos do fazer cinematográfico, como por exemplo, a escolha de um casting reconhecido por grande parte dos espectadores, também contribuem na publicidade de obras literárias, principalmente quando o material fílmico é uma adaptação homônima.

No Brasil após o “cinema da retomada” no final da década de 90, muitos filmes tiveram roteiros adaptados, o que facilitou a disseminação destas obras. Tal acontecimento ocorre por três vieses. O primeiro são aquelas obras realmente frutos da adaptação dentro de uma faixa de distanciamento de no máximo dez anos entre os lançamentos. Um copo de cólera, Lavoura Arcaica, Carandiru, Cidade de Deus, Benjamin, Budapeste, O Invasor, entre outros, são parte de uma filmografia nacional baseada nas obras literárias. O segundo exemplo acontece por aquelas produções de obras superiores a um leque de mais de uma década. As produções do filão das peças de Nelson Rodrigues (Vestido de Noiva) e de obras de Machado de Assis (Dom e a minissérie Capitu) e Eça de Queirós (Primo Basílio e O crime do Padre Amaro) são alguns dos exemplos encontrados neste segmento. O último viés é aquele que faz do cinema propagandista de obras “literárias”, essencialmente no campo das biografias e relatos confessionais, como nos filmes brasileiros Meu nome não é Jhonny, Zuzu Angel e Lula o Filho do Brasil.
Fora das nossas fronteiras temos inúmeros casos de filmes, principalmente no circuito “blockbuster hollywoodiano” em que as películas acabam divulgando significativamente as obras literárias ou não – O Código da Vinci, Ponto de Impacto e Marley & Eu, normalmente trazendo impresso em suas capas menção ao sucesso dos filmes.
Com a atual veiculação do lançamento de Quincas Berro d´a Água, do diretor Paulo Nascimento, fica nítido o aproveitamento do mercado editorial em contato inerente com o cinema. A simples entrada em livrarias revela tal artifício de encontrar pilhas do romance homônimo de Jorge Amado.
Uma das estratégias de editores é relançar obras que tiveram uma produção fílmica recente, inclusive caracterizando o livro com uma capa condizente com imagens do material cinematográfico. Ensaio Sobre a Cegueira dirigido por Fernando Meirelles leva uma capa com imagens da película cobrindo a capa original da obra de José Saramago.
O cinema que já teve várias retratações, da Paris do final do século XIX com os irmãos Lumière ao neorrelismo partidário dos cinemanovistas e do iconoclasta cinema marginal brasileiro e tantos outros tipos ainda em voga atualmente. Como sétima arte, o filme costuma continuar após os créditos finais. Neste caso da vinculação como propagandista de editoras e livrarias, certamente continua à vista ou com descontos.

23 de maio de 2010

Desencontros e Marcas


Ele faria da queda um passo de dança,

Do medo uma escada, do sono uma ponte,

Da procura um encontro.



Fernando Sabino, nascido em 12 de outubro de 1923, falecido em 11 de outubro de 2004, escritor, jornalista. Uma de suas obras mais conhecidas é o livro “Encontro Marcado”, que conta a saga de Eduardo Marciano em sua busca existencial, suas mudanças, seus pontos de vista alterados pelos seus encontros e desencontros.

A juventude de um homem e a sua desesperada procura de si mesmo e da razão por que se vive, assunto este já posto em xeque por tantos – Sartre, Clarice, Bakthin – mas que ganha um novo movimento, um novo ciclo neste romance, retratando toda a angústia de um escritor e de uma época.

As inquietações, os receios, as insatisfações de uma idade e de uma geração. Há quem diga que se trata da história do próprio Fernando Sabino, mas mais do que uma autobiografia é a biografia dos dramas de uma existência na busca por valores que dê sentido a vida.

História de adolescência e juventude; desesperos, cinismos, melancolia, tédio acumulados no espírito do escritor Eduardo Marciano e do amadurecimento em um mundo sem orientação e caótico.

(...) De súbito uma lembrança perdida lhe veio da infância e começou a rir, enquanto se aproximava do amigo.

- mas que milagre foi esse... De que você está rindo?

- Tínhamos um encontro – explicou. – Mauro, você e eu. No ginásio, se lembra? Você era o terceiro. Exatamente você.

O monge não se lembrava.

- Só eu fui... Mas não tem importância.

- Não acreditei que você viesse.

- Vim por um ou dois dias. Depois...

Calou-se. Não tinha importância também o que lhe aconteceria depois. (1990, p.284)


Fica aqui mais esta belíssima sugestão. Um encontro marcado com uma bela obra!!!



19 de maio de 2010

Memórias de Adriano

Não há como negar o primor da obra em si - a história do imperador romano Adriano, datada do século II, em que é narrada, em primeira pessoa, grande parte da sua vida.

Mesmo os que não admiram a literatura dita histórica imagino que vão se surpreender com as diversas reflexões presentes durante a narrativa.

memorias_de_adriano

O que gostaria de chamar a atenção, para que no momento da leitura houvesse uma análise detalhada, diz respeito às notas que a escritora Marguerite Yourcenar publicou ao fim do livro, que retratam momentos muito interessantes na escrita desafiadora da obra de arte.

Para aqueles que não valorizam a  escrita ou mesmo aqueles que sabem como o processo se dá, certamente é uma oportunidade interessante. Marguerite simplesmente descreve em pequenas notas a trajetória dos trinta anos que levou para concluir seu trabalho.

Além das exaustivas pesquisas e apego ao tema, de acordo com ela mesmo quando havia desistido do projeto de escrever acabava sempre publicando trabalhos relacionados ao tema, relata momentos crueis como a queima de algumas de suas anotações e as imprevisíveis “travadas” na escrita, quando abandonava o projeto do livro.

Assim como alguns esclarecimento que a autora pontua sobre a escolha de Adriano como protagonista, a relação com o romance histórico e esclarecimentos acerca do desenrolar da narrativa.

Entender como cada detalhe foi pensado dentro da obra dá a impressão de uma intimidade maior com ela, passamos a admirá-la e valorizá-la ainda mais, e concordar, nesse caso, com a fama desse ser um dos melhores romances do século XX.

Katrym

16 de maio de 2010

Palavra (En)Cantada

Palavra (En)Cantada é um documentário de longa-metragem (86min), dirigido por Helena Solberg, que percorre uma viagem na história do cancioneiro brasileiro com um olhar especial para a relação entre poesia e música. Dos poetas provençais ao rap, do carnaval de rua aos poetas do morro, da bossa nova ao tropicalismo, Palavra (En)cantada passeia pela música brasileira até os dias de hoje, costurando depoimentos de grandes nomes da nossa cultura, performances musicais e surpreendente pesquisa de imagens.
      O filme conta com a participação de Adriana Calcanhotto, Antônio Cícero, Arnaldo Antunes, BNegão, Chico Buarque, Ferréz, Jorge Mautner, José Celso Martinez Correa, José Miguel Wisnik, Lirinha (Cordel do Fogo Encantado), Lenine, Luiz Tatit, Maria Bethânia, Martinho da Vila, Paulo César Pinheiro, Tom Zé e Zélia Duncan. Imagens de arquivo resgatam momentos sublimes de Dorival Caymmi, Caetano Veloso e Tom Jobim.
       A maioria das entrevistas foi realizada na casa dos entrevistados, em atmosfera intimista, com o registro de declamações e canções especialmente para o documentário. Poemas de Fernando Pessoa, João Cabral de Melo Neto, Hilda Hilst e pérolas de nossos grandes compositores conduzem o roteiro do Palavra (En)Cantada. Entre as músicas do filme estão Choro Bandido (Chico Buarque/Edu Lobo), Alegria, Alegria (Caetano Veloso), Alvorada (Cartola), História do Brasil (Lamartine Babo), Inclassificáveis (Arnaldo Antunes), Fábrica do Poema (Adriana Calcanhotto/Waly Salomão), 2001(Tom Zé/Rita Lee) e O Mar (Dorival Caymmi).

13 de maio de 2010


JANELA DA ALMA


Como é a sua visão? O que você enxerga? Em que você foca seu olhar? Que imagens te atraem? Que tipo de cenas para contemplar ou observar? Você enxerga o mesmo que os outros? O que é ver?


O documentário Janela da Alma, de Jõao Jardim e Walter Carvalho, lançado em 2002, trabalha com a visão de um forma diferente e inesperada, sem entedê-la apenas como uma função biólogica do corpo. Dezenove pessoas, com profissões, idades e personalidades distintas, e com diferentes graus de deficiência visual, que vão da mais leve miopia à cegueira total falam sobre a experiência de ver.


O escritor José Saramago, a atriz alemã Hanna Schygulla, o músico Hermeto Pascoal, a atriz Marieta Severo, o poeta Manoel de Barros, o neurologista Oliver Sacks entre outros contam como vêem o mundo a sua volta, como vêem os outros e como se vêem.


A questão central do documentário não é então, os problemas de visão, suas consequências e possíveis limitações. O enfoque está na experiência única do que é enxergar, de como enxergar e porque focar seu olhar em tal objeto ou acontecimento. A visão não é posta como natural e comum a todos, mas como algo pessoal, que acontece através de construções do que o indivíduo considera ter importância ou significado.


Amanda Cieslak

11 de maio de 2010

EDITAL PARA OFICINAS

Olá!

Disponibilizamos aqui o edital para quem tiver interesse em ministrar as oficinas que serão realizadas no I Dia da Cultura Sem Fronteiras, já mencionadas aqui no blog:

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

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Secretaria de Estado da Ciência Tecnologia e Ensino Superior

Coordenadoria de Ensino Superior - CES/SETI

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EDITAL 01/2010

I DIA DA CULTURA SEM FRONTEIRAS

REGULAMENTO

Projeto Literatura e Cinema na Formação Humana

Programa Universidade sem Fronteiras

Subprograma Apoio às Licenciaturas

Objetivos

Incentivar a cultura na cidade de São Mateus do Sul, através de atividades artísticas que tenham como foco a cultura.

Promover o encontro entre a universidade e a comunidade, objetivando a geração de saberes e a troca de experiências.

Participantes

Podem se inscrever no I DIA DA CULTURA SEM FRONTEIRAS todos os interessados da comunidade que desejem contribuir para a realização de ações que envolvam temas relacionados a atividades artísticas diversificadas.

Categorias

Realização de oficinas para o público em geral.

Realização de apresentações (neste item incluem-se apresentações artísticas, musicais, teatrais ou qualquer outra categoria que envolva cultura).

Realização de mostras de quaisquer exposições artísticas.

Inscrições

Os participantes que desejarem contribuir com suas atividades no I DIA DA CULTURA SEM FRONTEIRAS deverão inscrever-se até o dia 01 de agosto de 2010 no email literaturaecinemausf@gmail.com ou diretamente na Fundação Cultural de São Mateus do Sul, em horário comercial.

No email deverá estar anexada a ficha de inscrição do trabalho proposto.

O trabalho se configura como voluntário, não haverá nenhuma de forma de pagamento pela realização das atividades.

Seleção

A seleção dos trabalhos a serem realizados no dia 11 de setembro de 2010 será feita por uma comissão formada por membros do Departamento de Letras da Universidade Estadual de Ponta Grossa, a partir de critérios que se pautarão na relevância da oficina para o I DIA DA CULTURA SEM FRONTEIRAS, bem como nos materiais e espaços disponíveis para a realização destas. O resultado será divulgado no dia 02 de agosto de 2010 e os inscritos selecionados receberão uma confirmação por email, bem como as demais instruções.

Divulgue-se.

9 de maio de 2010

Um On The Road brasileiro

Walter Salles dirige a adaptação de On The Road para o cinema



O
diretor brasileiro Walter Salles iniciou a pré-produção do filme On The Road, uma adaptação do romance homônimo do ícone da literatura beatnik, Jack Kerouac.

A co-produção de Brasil, França, Estados Unidos e Inglaterra tem o projeto assinado por Salles e Francis Coppola, que adquiriu os direitos do livro há três décadas. O gasto em torno da produção deve ficar na proximidade dos U$ 25 milhões.


Segundo o portal Variety, na origem de
On The Road, Salles viajou pelos EUA, seguindo os passos de Kerouac, e reuniu material para um documentário, "Em Busca de On The Road, que é um trabalho em realização. Salles apresentou uma hora de imagens com entrevistas com poetas beats e personagens do livro no Festival de San Francisco, onde o cineasta recebeu o Prêmio de Direção do Fundador.

Na produção de
On The Road o diretor vai utilizar o staff criativo do seu filme anterior Diários de Motocicleta, que também foi rodada no sistema de co-produção entre vários países, inclusive Cuba.

Dentro da filmografia do diretor se destacam –
Terra Estrangeira(1995), Central do Brasil (1998), Abril Despedaçado (2001), Diários de Motocicleta (2004) e Linha de Passe (2008).

Resta saber se
On The Road terá a presença da qualidade inerente às produções cinematográficas anteriores de Walter Salles. O apontamento do trabalho do diretor nos permite acreditar que sim.


Bruno Scuissiatto



2 de maio de 2010

Ciclo Christieniano


Nos dias 14 e 15 de maio, o projeto Cinemas e Temas realizará o ciclo de filmes Agatha Cristhie, que exibirá filmes que foram baseados na obra da escritora. O local será o grande auditório do campus central da UEPG. O projeto já realizou outros ciclos como “Ciclo sobre a morte” e “sobre Mitologia Grega”.
Agatha May Clarissa Mallowan, nasceu em em 15 de setembro de 1890, em Torquay. Ficou mundialmente conhecida como “Rainha da morte”, “Duquesa da Morte”, entre outros, por seus mais de 80 romances policiais. Morreu em 12 de janeiro de 1976, por causas naturais, deixando uma fortuna de mais de 20 milhões de dólares.
Esta atmosfera nos convida a relembrar um pouco da obra da escritora. Lembremos de alguns daqueles que serviram de base para a elaboração doa filmes que serão exibidos no ciclo.

“Assassinato no Expresso do Oriente”
Publicaso em 1934, é mais um caso do famoso e competente Hercule Poirot. Durante a viagem no Expresso, um dos passageiros é assassinato, neste meio tempo o comboio fica preso na estrada devido a uma forte tempestade de neve. Todos são suspeitos. Mas no decorrer da narrativa o detetive descobre que o assassinado era uma criminoso que participara no famoso caso Armstrong - que envolvia o rapto e morte de uma criança que levara à morte da mãe por desgosto e ao suicídio do pai.

“Episódios da série Poirot”
A série Poirot foi lançada na TV inglesa há cerca de 20 anos atrás e tem como personagem o famoso detetive Hercule Poirot. É estrelada pelo ator David Suchet, que foi recomendado pela família de Agatha Christie. Em cada episódio, o detetive soluciona um caso diferente, ao estilo Agatha, geralmente ao lado de seu colega Capitão Hastings.

“Testemunha de acusação”
Lançado em 1948, é uma coletânea de 11 contos lançada nos EUA. Leonardo Vole é preso sobre suspeita de assassinato de uma rica viúva. A sua única saída é o depoimento de sua esposa Christine Vole, fria e calculista. A situação se complica quando Christine decide depor, mas não a favor, contra.

“Morte no Nilo”
Publicado em 1937, o assassinado da vez é Linnet Ridgeway, ocorre em viagem pelo rio Nilo. Poirot, mais uma vez, vai desvendar quem foi o criminoso que além da vida, levou todas as jóias da vítima.

A escritora possui muitíssimos outros títulos, a maiôs parte deles lançados também em português. Os livros são muito acessíveis, estão em muitas das bibliotecas e também nos sebos, além das livrarias.

Ana Carla Bellon