9 de março de 2009

Angustiante e Real

“Já é hora de trabalhar” é a fase mais marcante do livro ‘Angústia’ (Misery no original, 345 páginas) do mestre do terror Stephen King. A frase é constantemente dita pela personagem Annie Wilkes que aprisiona o escritor Paul Sheldon em sua casa. O livro, publicado pela primeira vez em 1987 possui muitas características que assombram muitos escritores de sucesso.

Annie é uma leitora assídua dos romances de Misery Chastain escritas por Sheldon. Depois de vários romances publicados, o autor decide matar Misery para concentrar seus trabalhos em outros assuntos. Após Sheldon sofrer um sério acidente de carro, Annie o encontra e o leva para sua casa. Como o autor de Misery está muito debilitado por causa do acidente, a leitora assídua o mantém preso e o obriga a trazer a personagem de volta a vida. E não mede esforços para que isso aconteça.


Durante todas as páginas do livro, a impressão que se tem é que King está fazendo um desabafo. Ele quer mostrar que não se deve confundir fantasia com realidade. O realismo das cenas, por exemplo, é algo extraordinário. Num dos capítulos, Sheldon é obrigado por Annie a tomar água com detergente para continuar vivendo. A descrição da cena é tão real que parece ter sido vivenciada pelo autor.


Conta à lenda que realmente Stephen King passou por uma situação parecida. Um fã, psicótico e fanático invadiu a sua casa, obrigando-o a escrever um livro só para ele. Talvez por isso no final do livro o autor escreve: “Minha história já foi contada”. No entanto outras situações (nesse caso comprovadas) mostram que o autor queria mesmo fazer um alerta aos seus fãs e leitores. No prefácio de seu outro livro “A Torre Negra – Volume I, O Pistoleiro”, King diz ter recebido várias cartas de fãs para que ele contasse o final dessa história.


Diz ele que muitos leitores escreviam cartas emocionadas dizendo que estavam perto da morte e queriam saber o final do livro, que é divido em sete volumes. Indignado, King diz que nem ele sabia como iria acabar e que as pessoas deveriam esperar para saber realmente o final. Então, ‘Angústia’ se torna um livro para se pensar em até que ponto o leitor pode se relacionar com o escritor e até onde isso ainda é benéfico para os dois.


Outro aspecto interessante é a descrição psicológica minuciosa e perfeita (para quebrar um pouco o preconceito a Best Sellers) que Stephen King faz de seus personagens. Annie Wilkes, a leitora assídua é uma pessoa com sérios distúrbios mentais e que vive sozinha em sua casa, que é afastada da cidade. O único entretenimento dela são os romances de Misery. Quando essa morre, Annie surta e planeja alguma maneira de trazer a personagem de volta a vida.


São casos tão parecidos com a realidade, que um estudo de Psicologia sobre esse livro não seria nada de anormal. Descobrir o que leva uma pessoa a prender a outra apenas para a sua própria diversão e entretenimento. Ou ainda, o que leva uma pessoa a machucar a outra para conseguir o que ela quer, ainda que essa pessoa seja muito importante para ela. São indagações que facilmente poderiam virar uma pesquisa psicológica de transtornos de comportamento.


O livro ‘Ángustia’ foi adaptado ao cinema com o nome de ‘Louca Obsessão’. O filme de 1990 tem duração de 107 minutos. Traz no elenco Kathy Bates como Annie Wilkes e James Caan como Paul Sheldon. O filme rendeu a atriz Kathy Bates o Oscar e o Globo de ouro de melhor atriz em 1991.



Ana Carla Bellon

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