15 de dezembro de 2010

O Seminarista um romance cinematográfico de Rubem Fonseca



O romance, conto ou seria a novela? Rubem Fonseca traz para a narrativa de O Seminarista, editora Agir, 2009, uma apresentação do que podemos chamar de uma literatura pautada em um estilo cinematográfico. Isso não é uma novidade no estilo literário desse octagenário que tem uma publicação na literatura há praticamente cinquenta anos.
Em O Seminarista encontramos essa linguagem enxuta e direta que naucateia o leitor, que aliás sente esse gosto desde os clássicos Lúcia McCartney, Feliz Ano Novo e o Cobrador obras publicadas na década de 60, fazendo deste mineiro com uma alma tão carioca dono de um estilo próprio dentro do conto brasileiro.
Nas 23 narrativas de O Seminarista temos a presença de grandes cortes nas cenas narradas, permitindo ao leitor um encontro com o jocoso. Essa estratégia do narrador, contribuiu para deixar que o personagem título da obra – “O especialista” não caia nos esteriótipos corriqueiros quando tratamos de personagens de produções policias. Afinal, não é todo matador profissional que confessa estar apaixonado, como no caso, acontece no relacionamento com Kirsten ou ainda quando interrompe a narrativa para dizer de sua consulta no dentista para um implante dentário.
Outro ponto interessante nesta narrativa de Rubem Fonseca para desconstruir os tipos caricatos de assassinos de aluguel é torná-lo um homem inteligente, falante de latim, cinéfilo de Kurosawa, Fellini, Visconti, Buñuel e Kubrick.
Porém, se por um lado temos a presença desse personagem “título”, em outro, há muito do mundo da realidade contemporânea, principalmente no que tange o tráfico de drogas, a compra indiscriminada de armas de fogos, além de intrigas provocadas pelos poderes paralelos. Ao atribuir isso ao discurso ficcional de O Seminarista, Rubem Fonseca permite aspectos novos em sua obra, por mais que estruturalmente, pelo ponto de vista da linguagem construída em períodos curtos centradas no coloquialismo sejam uma marca sua em muitas outras de suas obras.
Tudo em O Seminarista permite ao leitor um encontro com uma obra que proporciona leituras independentes. Nos 23 “capítulos” existe uma independência, que por mais que os personagens migrem de um capítulo para o outro, essa unidade permanece entre o começo e o final de cada parte.
Se a obra tem uma pauta em um estilo cinematográfico, isso requer dizer que médias e curtas metragens seriam o termo mais apropriado para estabelecer comparação com as narrativas de O Seminarista.
A pergunta inicial não ousa ser respondida, não pela falta de argumentos, mas pelo descompromisso de uma sala de cinema comercial que é projetada nesta leitura.



Bruno Scuissiatto

0 comentários: