O diretor Rogério Sganzerla foi um dos grandes produtores, críticos e fomentadores do cinema brasileiro marginal. Dirigiu filmes emblemáticos neste segmento, como O Bandido da Luz Vermelha, Mulher de todos, Sem essa, aranha e o Signo do caos.
Porém, poucas pessoas sabem que Sganzerla foi crítico de cinema do jornal Folha de São Paulo, inclusive escrevendo sobre filmes durante quatro anos – sua carreira atrás das câmeras é posterior ao trabalho na redação do jornal. E também fundou a produtora Belair com o também diretor do cinema marginal Júlio Bressane. No breve tempo de existência a produtora produziu sete filmes – 3 de Sganzerla, 3 de Bressane e um curta-metragem.
Recentemente foi lançado o documentário Belair, dirigido por Noa Bressani e Bruno Safadi, que mostra entrevistas e imagens dos filmes rodados pela produtora naquele Brasil de 70. Como afirmam os próprios diretores: Sganzerla e Bressane estavam no auge da criatividade, e o Rio de Janeiro foi o cenário inspirador para deflagrar a pólvora que incendiou suas miríades de ideias. Pela primeira vez, a favela era filmada em cinemascope, colorida, quente, explosiva. Era um cinema agressivo, de afronta, imoral na forma e coerente nas idéias. A radicalização de princípios custou caro para os dois: com a ditadura militar batendo na porta, foi preciso abrir mão do Brasil e pular fora rumo ao velho continente.
Celebrando o diretor nesta semana próxima a editora da UFSC lança Edifício Rogério - uma caixa com dois volumes de críticas cinematográficas de Sganzerla. Certamente uma contribuição a um diretor que fez muito pelo cinema e a cultura nacional.
O Barroco é um estilo de arte que surgiu no começo do século VXII na Europa. A palavra “Barroco” significa “perola Imperfeita”, era um termo usado para expressar raciocínios confusos e idéias tortuosas. Na arte este termo foi usado para expressar os conflitos existentes em cada segmento: Literatura, arquitetura, música, etc. Em termos estilísticos, a literatura barroca em linhas gerais praticou um culto exagerado à forma e ao virtuosismo no intuito de maravilhar o leitor, o que implicava o uso constante de figuras de linguagem e outros artifícios retóricos, como a metáfora, a elipse, a antítese, o paradoxo e a hipérbole, com grande atenção ao detalhe e à ornamentação como partes integrais do discurso. Também se popularizaram as literaturas vernaculares e aquelas centradas no cotidiano, cultivando temas naturalistas e de crítica social, como contrapartida ao idealismo cavaleiresco e nobilizante do Renascimento. A Literatura Barroca chegou ao Brasil em meados do Século XVII, muito antes da arquitetura e da música, os quais foram ter representatividade somente no século XIX. Na Literatura Brasileira, temos como principal representante o poeta Gregório de Mattos e Guerra, conhecido como “Boca do Inferno. A alcunha “Boca do Inferno” foi dada a Gregório por sua ousadia em criticar a Igreja Católica, muitas vezes ofendendo padres e freiras. Criticava também a "cidade da Bahia", ou seja, Salvador.
Em 2002 foi lançado um filme sobre a vida do poeta com o nome de “Gregório de Mattos”. Não é uma biografia fiel a vida de Gregório de Mattos, mas sim uma dramatização dos costumes do poetas e de acontecimentos da época que coincidem com seus poemas e suas temáticas. O Drama foi feito sob a direção de Ana Carolina Teixeira Soares, cineasta brasileira. Ana Carolina trouxe para as telas as sátiras do poeta e usou artifícios que identificassem a arte Barroca. Tomando como exemplo um poema presente no filme, foi feita a analise da relação Literatura/Cinema para identificar essas estratégias cinematográficas com base na literatura. Uma característica geral é a cor sépia. É um filme colorido, mas sem cor ao mesmo tempo, uma espécie de confusão visual que a diretora usou como estratégia para contextualizar o estilo barroco O poema “O Burgo”. Que no filme situa-se de 01:55min. até 02:15min.
O Burgo
Meus males de quem procedem? Não é de vós? claro é isso Que eu não faço mal a nada por ser terra e mato arisco. Isto sois, minha Bahia, Isto passa em vosso burgo
Analisando o poema de Gregório de Mattos, ele nega que seus costumes, subjugados pela sociedade e pela moral são sua culpa pessoal, mas sim produto do ambiente em que vive. Não é o poeta que causa o mal, mas a cidade que o faz assim. Gregório varia em ser o autor modelo e o autor empírico (conceitos narrativos de Umberto Eco). No filme a cena que trás o poema ocorre como introdução do poeta (representado por Wally Salomão) ao filme. O poeta encontra-se no navio olhando a Bahia do oceano, e o poema é declamado com entonação lenta e explicativa, como se estivesse apresentado à cidade ao espectador. O Barroco está presente na filmagem que intercala as imagens entre o personagem e a cidade, balançando e mudando o foco conforme o barco se move pelas ondas, subindo e descendo. O poema começa no momento em que uma freira (Maria Gabriela) termina uma breve introdução sobre quem é Gregório de Mattos e acaba com pés de escravos acorrentados descendo uma viela. A freira apresentando Gregório é uma espécie de contradição ao poeta conhecido como “Boca do Inferno”. Já os pés do escravo identificam um fator importante do contexto da sociedade em que o filme se passa. Todas essas estratégias presentes no filme permitem que o espectador tenha uma compreensão da arte barroca. A confusão dos cenários com o contexto e os poemas mais que picantes do poeta demonstram o ótimo trabalho que Ana Carolina realizou na execução desta obra. A interpretação de Wally Salomão nas declamações assim como dos outros atores nos dá uma idéia mais próxima da interpretação do poema. A versão cinematográfica dos poemas nos dá uma visão mais impactante do que se tinha somente com a leitura. A câmera com foco e movimentos desordenados e a “cor” sépia são o pontos principais das características barrocas desta obra.
Euclides da Cunha e seus sertões são assuntos já há muito tempo estudado, analisado, contrariado, mas com um consenso: não é ‘enquadrável’ a um gênero. Mas há muita discussão em torno dos seus limites literários e/ou históricos ou sobre seu ‘ensaísmo social’, como já disse Bosi (1936, p. 309).
O escritor é chamado de autor de uma única obra, cuja obra moveu águas estagnadas da belle époque e as tensões da vida nacional. A revolta de Canudos, do líder Antonio Conselheiro iniciada em novembro de 1896, teve duração de quase um ano e uma certa repercussão e conhecimento popular, mas não teria sido o mesmo sem a “saga sertaneja” (SIMON, 2009) de Euclides.
O ensaio deste escritor comprometido socialmente, humanamente e com a natureza teve duração de aproximadamente três anos (1898-1901) e aclamação do Instituto Histórico de Geográfico Brasileiro da época. O autor teve um esforço em colher o real e seriedade e boa-fé com a palavra.
Ora, a obra de arte literária possui critérios de julgamento e um deles é a ficção. Os sertões escapa deste critério, não totalmente, mas possui outras qualidades que fazem com que o estudemos ainda hoje dentro do quadro literário na universidade e na escola. Critérios este como a linguagem literária, bem destacada pela professora Maria Simon, que faz um estudo inteiramente sobre estas características (1). Simon diz que, depois de Euclides, os termos “sertões, sertanejo” passaram a ter um valor diferente no imaginário popular. Sua linguagem é uma mistura de terminologia científica, brasileirismos e palavras tidas como pertencentes à literária.
Outro aspecto muito relevante é a leitura de Euclides como um pessimista míope, “afeito apenas a narrar desgraças inevitáveis de homens e raças”, mas Bosi destaca que “quem julgou o assédio a Canudos um crime e o denunciou era, moralmente, um rebelde e um idealista que se recusava, porém, ao otimismo fácil” (1936, p. 311), diferente de dizer que seja incapaz de enxergar alguma esperança.
A obra pré modernista euclidiana se encaixa, sim, em um alto nível de cultura científica e histórica e, ainda, “o flagelo das secas propicia ao escritor os momentos ideais para pintar com palavras de areia, pedra e fogo o sentimento do inexorável” (BOSI, 1936, p. 310).
Mas as tentativas de classificação continuam: Afrânio Coutinho a classifica como uma obra de ficção entre romance e epopéia, já Guilherme Merquor diz se tratar de uma saga sertaneja e também um romance por usar linguagem literária. Há ingenuidade tamanha até para tratar Euclides como um ”simples copista”.
Mas porque não considerar a opinião do próprio autor sobre a relação entre literatura e ciência?
Sagrados pela ciência e sendo de algum modo, permita-me a expressão, os aristocratas da linguagem, nada justifica o sistemático desprezo que lhes votaram os homens de letras – sobretudo se considerarmos que o consorcio da ciência e da arte sob qualquer de seus aspectos é hoje a tendência mais elevada do pensamento humano. (...) Qualquer trabalho literário (do futuro) se distinguirá dos estritamente científicos, apenas, por uma síntese mais delicada, excluída apenas a aridez característica das análises e das experiências. (...) Eu estou convencido que a verdadeira impressão artística exige fundamentalmente a noção cientifica do caso que a desperta. (CUNHA, 1902)
Mas para a literatura o que se ressalta é o seu caráter literário
e artístico e é, portanto, antes de tudo uma obra de arte literária com uma indiscutível qualidade narrativa e um caráter inigualável.Pode ser visto como uma grande crônica, um diário de guerra, um tratado histórico, um ensaio antropológico-sociológico, uma peça literária e até como um discurso forense, mas é fundador de um movimento artístico chamado Os sertões.
1 - Características da Linguagem de Euclides da Cunha em “Os sertões”, por Maria Lucia Mexias Simon (USS/UVA)
3 de julho de 2010
PARTICIPAÇÃO EM CURSINHO PRÉ-VESTIBULAR
Domingo, dia 04 de julho, a professora doutora Rosana Apolonia Harmuch, coordenadora do projeto, participará do cursinho comunitário realizado em Sâo Mateus do Sul.
A fala dela será sobre técnicas para uma boa redação e acontece às 14h no Colégio São Mateus. Novamente o projeto marcará presença nessa atividade da comunidade.
As incrições para os concursos de contos e curta-metragem continuam abertas! Participe!
Katrym
1 de julho de 2010
O Coração das Trevas
“… a maioria dos marujos leva, por assim dizer, uma vida sedentária. Eles sempre se sentem em casa, pois sua casa sempre os acompanha – o navio; bem como seu país – o mar. Um navio é muito parecido com outro, e o mar é sempre o mesmo. Num ambiente imutável, os litorais estrangeiros, as fisionomias estrangeiras, a variada imensidão da vida – tudo passa imperceptível, velado não por um misterioso sentido, mas por uma ignorância levemente desdenhosa; pois não existe mistério para um homem do mar, a não ser o próprio mar, que é senhor de sua existência e inescrutável como o Destino. Quanto ao resto, nas suas horas de folga, uma caminhada casual, ou uma eventual bebedeira em terra bastam para revelar-lhe o segredo de todo um continente – e geralmente acha que o segredo não vale a pena ser conhecido. As histórias dos homens do mar têm uma simplicidade direta, cujo significado cabe inteiramente na casca de uma noz partida.”
O trecho acima foi retirado do livro O Coração das Trevas de autoria do escritor Joseph Conrad. Nascido na Ucrânia em 1857, aos 17 anos entrou para marinha inglesa, onde recebeu o título de cidadão britânico.
Conrad escreveu O coração das trevas em 1902, o livro conta a história de Marlow e seu encontro com o Mal nas densas florestas africanas. O enredo do Romance constitui-se da viagem de Marlow, que segue em um grande rio acima em busca de carregamento de marfim, mercadoria muito valiosas na época. Durante a viagem Marlow foi pouco a pouco conhecendo o muito entorno de um certo Kurtz, que seria um homem europeu que teria fundado um “estado próprio” erigindo o culto a si mesmo entre os nativos e a admiração e temor de todos na região. A figura mítica de Kurtz ronda o imaginário de Marlow por toda a viagem até que este finalmente o encontra, chegando lá Marlow fico horrorizado com o que vê. Kurtz, completamente enlouquecido, tem entorno de si toda uma tribo de costuradores que está disposto a realizar as piores atrocidade em nome desse “deus vivo”. A mais famosa adaptação do livro seminal de Conrad é o filme Apocalypse Now de Francis Ford Coppola, que transferiu a história para o Vietnam e Camboja na época da Guerra do Vietnã.