7 de julho de 2010

Gregório de Mattos





O Barroco é um estilo de arte que surgiu no começo do século VXII na Europa. A palavra “Barroco” significa “perola Imperfeita”, era um termo usado para expressar raciocínios confusos e idéias tortuosas. Na arte este termo foi usado para expressar os conflitos existentes em cada segmento: Literatura, arquitetura, música, etc.
Em termos estilísticos, a literatura barroca em linhas gerais praticou um culto exagerado à forma e ao virtuosismo no intuito de maravilhar o leitor, o que implicava o uso constante de figuras de linguagem e outros artifícios retóricos, como a metáfora, a elipse, a antítese, o paradoxo e a hipérbole, com grande atenção ao detalhe e à ornamentação como partes integrais do discurso. Também se popularizaram as literaturas vernaculares e aquelas centradas no cotidiano, cultivando temas naturalistas e de crítica social, como contrapartida ao idealismo cavaleiresco e nobilizante do Renascimento. A Literatura Barroca chegou ao Brasil em meados do Século XVII, muito antes da arquitetura e da música, os quais foram ter representatividade somente no século XIX. Na Literatura Brasileira, temos como principal representante o poeta Gregório de Mattos e Guerra, conhecido como “Boca do Inferno. A alcunha “Boca do Inferno” foi dada a Gregório por sua ousadia em criticar a Igreja Católica, muitas vezes ofendendo padres e freiras. Criticava também a "cidade da Bahia", ou seja, Salvador.



Em 2002 foi lançado um filme sobre a vida do poeta com o nome de “Gregório de Mattos”. Não é uma biografia fiel a vida de Gregório de Mattos, mas sim uma dramatização dos costumes do poetas e de acontecimentos da época que coincidem com seus poemas e suas temáticas. O Drama foi feito sob a direção de Ana Carolina Teixeira Soares, cineasta brasileira. Ana Carolina trouxe para as telas as sátiras do poeta e usou artifícios que identificassem a arte Barroca. Tomando como exemplo um poema presente no filme, foi feita a analise da relação Literatura/Cinema para identificar essas estratégias cinematográficas com base na literatura. Uma característica geral é a cor sépia. É um filme colorido, mas sem cor ao mesmo tempo, uma espécie de confusão visual que a diretora usou como estratégia para contextualizar o estilo barroco
O poema “O Burgo”. Que no filme situa-se de 01:55min. até 02:15min.

O Burgo

Meus males de quem procedem?
Não é de vós? claro é isso
Que eu não faço mal a nada
por ser terra e mato arisco.
Isto sois, minha Bahia,
Isto passa em vosso burgo


Analisando o poema de Gregório de Mattos, ele nega que seus costumes, subjugados pela sociedade e pela moral são sua culpa pessoal, mas sim produto do ambiente em que vive. Não é o poeta que causa o mal, mas a cidade que o faz assim. Gregório varia em ser o autor modelo e o autor empírico (conceitos narrativos de Umberto Eco).
No filme a cena que trás o poema ocorre como introdução do poeta (representado por Wally Salomão) ao filme. O poeta encontra-se no navio olhando a Bahia do oceano, e o poema é declamado com entonação lenta e explicativa, como se estivesse apresentado à cidade ao espectador. O Barroco está presente na filmagem que intercala as imagens entre o personagem e a cidade, balançando e mudando o foco conforme o barco se move pelas ondas, subindo e descendo. O poema começa no momento em que uma freira (Maria Gabriela) termina uma breve introdução sobre quem é Gregório de Mattos e acaba com pés de escravos acorrentados descendo uma viela. A freira apresentando Gregório é uma espécie de contradição ao poeta conhecido como “Boca do Inferno”. Já os pés do escravo identificam um fator importante do contexto da sociedade em que o filme se passa.
Todas essas estratégias presentes no filme permitem que o espectador tenha uma compreensão da arte barroca. A confusão dos cenários com o contexto e os poemas mais que picantes do poeta demonstram o ótimo trabalho que Ana Carolina realizou na execução desta obra. A interpretação de Wally Salomão nas declamações assim como dos outros atores nos dá uma idéia mais próxima da interpretação do poema. A versão cinematográfica dos poemas nos dá uma visão mais impactante do que se tinha somente com a leitura. A câmera com foco e movimentos desordenados e a “cor” sépia são o pontos principais das características barrocas desta obra.
Ramon Felipe Ronchi

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