22 de outubro de 2010

A Revolução Musical

 

       “Se o rádio não toca a música que você quer ouvir, não procure dançar ao som daquela antiga valsa, é muito simples, é só mudar a estação”. A máxima profética de Raul Seixas já pregava nos anos 80 a liberdade que vinte anos depois chegaria com a internet e tiraria as correntes dos consumidores de música e o sono dos executivos das grandes gravadoras.

       A “revolução digital” na música esta aí pra todo mundo “ouvir”, graçashand-with-reflecting-ipod a internet estamos livres das mídias. Já é fato, o formato CD está moribundo e muito em breve se reunirá com seus falecidos amigos, LP e K7. A indústria da música como seus olhos de cifrão, não acompanhou a evolução desse conceito de liberdade.

       Quando surgiu a cultura de se ouvir música além do rádio, no início do século XX, também veio a necessidade de se armazená-la . Então foram produzidos os primeiros discos de vinil de 78 rpm, e mais tarde quando a indústria musical tornou-se um grande negócio, foi que os papéis se inverteram, ou seja, o produto que era a música passou para segundo plano, dando lugar ao meio no qual ela seria distribuída e assim, “casando” por um bom tempo a música e a mídia física.

      Do vinil de 78 rpm, para o de 45 rpm, ainda com o de 33 rpm, passando depois pelo K7 e chegando ao CD, a indústria obrigou os consumidores a consumir suas mídias e de tempos em tempos trocá-las além de trocar também os aparelhos que as reproduziam, em nome da qualidade que as novas tecnologias traziam. E é essa mesma tecnologia que está decretando o fim desse sistema.

      Pois o próximo passo na evolução da música como produto, não foi dado pela indústria e sim pelo consumidor. Ao criar o formato MP3, e desvincular da música a necessidade da distribuição por algum meio físico, os consumidores finalmente tornaram se “livres”. Só com a troca de músicas pela internet consolidada, que as gravadoras se renderam ao formato digital, devolvendo à música em si o lugar de produto, agora se percebe o quanto sempre nos custou, o disco propriamente dito, com músicas sendo vendidas por menos de um real.

      A revolução digital trouxe a facilidade de distribuição, é enorme o número de artistas que estão podendo mostrar o seu trabalho graças à internet. Trazendo à tona o conceito de single, que há tempos estava esquecido, o artista disponibiliza uma música avulsa sem precisar de uma gravadora, ou até da gravação de uma álbum com várias faixas. São várias as bandas e cantores que são “crias” desse mundo digital

     Sabendo que a maior parte da renda de um artista vem dos shows que promove e não dos discos que vende, a internet passa ser uma grande vitrine para se conhecer novos talentos e assim alavancando a carreira dos artistas, sem a necessidade desses serem um fenômeno de vendas. As gravadoras por sua vez, têm casa vez mais a ânsia de fabricar sucessos, com artistas fajutos e medíocres, ganhando dinheiro com “jabás” para rádios e TV’s e ainda com a venda de discos para a massa em geral, que não se enquadra no termo de consumidor de música, pois ouve indistintamente o que toca no rádio ou o que vê na TV fechando assim o ciclo.

     Na realidade a o contato com a música ficou mais fácil, a “culturaiPod” é um fenômeno mundial, incluindo sim, o Brasil. Aqui, os mp3 players já são uma realidade, é só dar uma volta pela sua cidade e comprovar. Outro fator relevante é que por mais que a internet de alta velocidade nas residências não esteja tão difundida como os players, há de se contar o fato da banda larga estar presente no trabalho dessas pessoas, tornando assim possível a aquisição dessas músicas e a troca delas com amigos, alastrando a distribuição.

     O que se pode esperar dessa nova maneira de se consumir música, é sem dúvida uma crescente democratização da experiência musical, pois antes de tudo música é cultura, e sabemos que cultura nunca é demais, pois citando novamente nosso saudoso Raul Seixas, a vida é mais que “sentar num trono de apartamento com a boa escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar” .

 

Kleber Bordinhão

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