14 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2 - cumpre seu papel


Acompanhei de longe o lançamento de Tropa de Elite II, sentindo a necessidade de assisti-lo o quanto antes, para então poder acompanhar algumas críticas acerca do filme. Tentei ao máximo me distanciar do filme, porém, tarefa praticamente impossível, devido a grande enxurrada de notícias da grande mídia. Como um autêntico ladrão de histórias em quadrinhos, assisti o trailer do longa, ali, imaginei o quanto seria problemático escrever apenas sobre o lançamento e a bilheteria do primeiro final de semana de estreia.

Com desconfiança cheguei ao cinema, depois de ouvir tantas histórias sobre a superlotação das sessões, tive medo de não conseguir ingresso para o Tropa de Elite 2, justamente nestes tempos de correrias que antecipam o final de ano letivo. Adentrando a sala, encontrei facilidade em achar uma poltrona, já que a capacidade da sala tinha no mínimo a metade completada. Bem, vamos aos fatos, ou melhor, ao filme.

O ponto alto de Tropa de Elite 2 (se é que ele permite escolher apenas um) é o tom documental empregado no longa-metragem, que certas vezes chega a confundir o espectador com a mensagem inicial na tela - “uma obra de ficção”. O documentário que tantas vezes prestou um grande serviço ao cinema, parecia ser visto na contramão, quando visto como componente dentro de um cinema comercial. Com Tropa de Elite 2, a equação é invertida, o documental empregado na narrativa fílmica se torna mais verosímil com a própria construção do filme todo. Se por um lado, o longa de Padilha tem essa pertinente relação documental, por outro, as filmagens de grande em várias passagens, somadas aos efeitos especiais (principalmente nas cenas de perseguições áreas), conseguem traduzir uma grande evolução no cinema brasileiro. Aqui, cabe um pequeno comentário, a produção cinematográfica nacional, ao largo dos anos tem produzido significativa obras, seja no campo comercial, documental ou mesmo no mercado de curtas e médias metragens, inclusive somando forças no desenvolvimento no campo das animações, aplicando conceitos, que normalmente assistíamos apenas por intermédio de produções hollywoodianas.

Aqui fica um adendo ao staff de Tropa de Elite 2, que conseguiu enaltecer de forma maravilhosa o trabalho de uma equipe com experiência vitoriosa no cinema brasileiro, após o cinema da reabertura – no caso, Fátima Toledo (preparadora de elenco), Lula Carvalho (diretor de fotografia), Daniel Rezende (montagem) e Bráulio Mantovani (roteirista), todos trabalharam em Cidade de Deus (2001).

Já José Padilha se tornou definitivamente, se ainda existia alguma dúvida, um dos nossos maiores diretores de cinema nacional. Se os devidos créditos pela direção de Tropa de Elite I e II chamam atenção para Padilha em salas de cinema abarrotadas de gente pelo Brasil. Tal reconhecimento não é novo, basta verificar que dentro da filmografia nacional da última década, o diretor foi o responsável por dois grandes documentários – Ônibus 174 (2002) e Garapa (2009). Tão diferentes em sua estrutura, como no próprio caso das produções de Tropa de Elite.

No campo das interpretações, grande destaque pela sequência dos atores que interpretam as ações fundamentais longa. Isso provocou uma forte empatia com o espectador, que encontrou nas narrativas em OFF do Coronel Nascimento uma recordação adormecida da primeira sequência de Tropa de Elite.

O sucesso do filme não é mera decodificação dos invariáveis acessos proporcionados pelas mídias. A fórmula do filme de Padilha é trabalhar com muitas questões, que passam pelos campos sociais, políticas e familiares.

Fico com a sensação de dever cumprido ao final da sessão de Tropa de Elite 2 enquanto espectador de cinema. Em tempos de produções altamente comerciais, pode-se dizer que o longa-metragem consegue ser comercial e autoral ao mesmo tempo. E isso, é muito bom.



1 comentários:

Silvana disse...

Assisti ao Tropa de Elite II em uma sessão lotada no domingo pré Dia das Crianças, no Palladium 1. Calculem...
O filme não tem o mesmo ritmo frenético do primeiro, mas com certeza ganha em profundidade e elaboração. É muito interessante observar o Capitão Nascimento embrenhado em questões burocráticas das quais não é mais possível sair só usando a metralhadora. Agora ele precisa usar as palavras: temei as palavras, corruptos do mundo. Heróico e muito charmoso como o policial divorciado (mas por quem a ex ainda arrasta um carro tanque), o "Beto" - como é chamado várias vezes no filme - ganha densidade e é alçado ao patamar de complexidade de um Will Dormer (personagem de Al Pacino em Insônia, do Nolan).
Além do aspecto político que envolve o drama da violência no Rio, o filme - como ficção - supera em muito o primeiro por conta do enredo menos maniqueísta, em que as personagens não podem mais ocupar um lugar estável na galeria do crime ou da justiça.
Vale a pena ver, com certeza.