23 de dezembro de 2008

As (nossas) discussões de cada dia


Não raras vezes nos vemos diante do embate, o que seria melhor – livro ou filme. No ensejo dessas discussões percebemos que grandes bilheterias do cinema nacional em sua última década, foram buscar inspiração nas páginas de livros - Carandiru (2002), Cidade de Deus (2002) e Tropa de Elite (2007) são exemplos clássicos do estreitamento entre literatura e cinema. Não podendo deixar de relatar que anterior a essa fase após a reabertura do cinema novo, tivemos outros filmes brasileiros frutos de adaptações da literatura, inclusive o líder da bilheteria do cinema nacional de todos os tempos com 10 milhões de expectadores – Dona Flor e seus dois Maridos adaptação do romance de Jorge Amado e levado ao cinema pelo diretor Bruno Barreto em 1976. Porém, o que leva as pessoas a discutirem o que seria melhor, um livro ou um filme? Talvez o indigesto nessas discussões seja o gosto pessoal de cada um. O que é válido, afinal uma obra é voltada para o público, seja ela literária ou cinematográfica. É o publico que vai fazer da produção sucesso ou fracasso. É ele que vai divulgar coletivamente a obra .
Bem, voltando ao principio da postagem, por mais que exista um estreitamento entre literatura e cinema, ambos possuem linguagens diferentes, cada uma se valendo de peculiaridades. Enquanto as páginas romanescas contam histórias narradas em páginas e mais páginas e descrevem cenários no silêncio da leitura o filme é visual, tem duração comum de 100 a 180 minutos e as ações construídas são debruçadas em sons, imagens e interpretações. Imaginem uma página de um romance em que o narrador relate que um dos personagens esteja sentado em um café na espera de ser atendido. Na espera enquanto fuma um cigarro chega um homem desconhecido. Provavelmente enquanto o leitor estiver lendo, as imagens serão imaginadas de diferentes formas em cada um. Agora, passemos da leitura para a adaptação do cinema para o mesmo trecho. A cena vai começar a mostrar o café pelos quadros que decoram as paredes, a imagem vai fazer uma tomada pelas pernas dos personagens, aparecerá uma atendente e somente após alguns segundos o personagem que fuma na espera do café vai aparecer. O homem desconhecido vai aparecer e lhe confundir com um amigo, ex-combatente de guerra do exercito alemão. As interpretações serão próximas de serem iguais no segundo caso, não que não possamos encontrar visões diferentes desta mesma cena.
O terreno das adaptações é arenoso e produzir filmes fiéis as páginas escritas de um romance pode torna-se exaustivo demais em uma película de no máximo três horas, além de não privilegiar os traços do trabalho de roteiristas e diretores.
As discussões nossas de cada dia em torno deste embate entre o que seria melhor – literatura ou cinema, por mais que tratem de linguagens diferentes estão longe de acabar. Babenco, Meirelles, Padilha, nós e tantos outros sabemos muito bem disso.

Bruno Scuissiatto

1 comentários:

Anônimo disse...

Olá!

Concordo que as linguagens são diferentes. Mas um caso que acho legal ser citado foi a adaptação "Capitu" de "Dom Casmurro" como série, que seguiu fielmente as palavras de Machado, e, na minha opinião, teve um resultado maravilhoso.
Abraços