29 de dezembro de 2008

Feliz Livro Novo!

Relendo alguns textos de Eça de Queirós e Machado de Assis, vemos que já no século XIX esses autores se preocupavam em retratar e criticar os comportamentos de determinada classe social, os burgueses. A classe que surgiu na Europa com o desenvolvimento do comércio evoluiu até alcançar poder para dominar as demais classes.

O dicionário Houaiss define burguês como “que ou o que demonstra contar com horizontes estreitos: ser antiprogressista, preconceituoso, reacionário, ou nada entender das coisas do bom gosto e da arte, ou ter inquinações e sentimentos pouco elevados (todos considerados como características dos burgueses)”

A burguesia que Machado e Eça apresentavam está bem de acordo com a definição do Houaiss. Todos os componentes dessa classe estabeleciam suas bases no cultivo de uma aparência freqüentemente forjada. O que importava para as personagens burguesas era parecer rico, parecer saudável, parecer culto. Não era necessário ler, mas ter livros. Não era necessário ter dinheiro, mas estar sempre bem vestido e possuir as novas tecnologias. Importava ter uma esposa que fosse bem apessoada, não amá-la e respeitá-la. As mulheres eram moeda de troca.

Nessa época de Natal e Ano Novo, logo se ouve falar em reflexão, organização, mudanças, planos... Reflete-se, organiza-se, muda-se, mas muitos dos planos que fazemos ficam para trás.

Do século XIX até hoje já se foram mais de 100 natais e 100 fins e inícios de anos. Quais foram as mudanças? A busca ininterrupta por uma aparência e por bens materiais? Qual a profundidade dos relacionamentos de hoje? Talvez a mudança tenha sido apenas nos objetos de nosso desejo. Mudou-se a moda.

Quantos natais e fins de ano serão necessários para que realmente se opere alguma mudança?
Será necessária alguma leitura para que haja transformação. Alguém já disse que uma das funções da arte é provocar a reflexão no leitor e operar a mudança em suas vidas. De nada adianta desejar um Feliz Ano Novo se ele for apenas igual a este velho que já se vai, então, Feliz Livro Novo, porque este trará alguma alegria e esperança.

Angelis Cristina Soistak

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