3 de janeiro de 2010

O Helter Skelter de Charles Manson



Certos filmes usam e abusam do referencial verdadeiro para construir suas narrativas. Helter Skelter (2004) do diretor John Gray não é diferente. Baseado nas histórias relatadas no livro de Vincent Bugliosi, que foi o promotor responsável pelo processo criminal no qual todos os participantes da família Manson orientados pelo mentor Charles acabaram condenados. Inicialmente vinculado a televisão americana em episódios, foi lançado no Brasil em 2004 no formato película.

O mosaico histórico é muito forte, cenas e colagens de fotografias sobre a efervescência cultural principalmente com os avanços americanos e a ousadia transgressora dos jovens são recorrentes na narrativa. Concomitantemente acontecem explorações de assuntos relativos com a religião e o fim do mundo. Charles Manson se auto-intitula “Jesus Cristo” e aliado ao talento de sua persuasão musical começa a reunir vários jovens em um rancho na Califórnia. Estes todos acabam incumbidos em desenvolver o Helter Skelter que seria o fim do mundo, segundo a teoria de Manson.

Com a carreira musical impossibilitada no meio musical de Hollywood, quando conseguiu apenas lançar um único single, aumentando o seu desequilíbrio psiquiátrico de fracassado rock star. Dentro de uma estética realista o filme consegue mostrar a influência dos crimes praticados por eles como uma vitória sobre a classe artística americana uma espécie de vingança contra aquela sociedade que lhe negou a oportunidade na carreira musical. Entre os crimes bárbaros contra celebridades o mais terrível certamente foi de Sharon Tate, esposa do cineasta Roman Polanski, que estava grávida de oito meses do primeiro filho do casal e acabou assassinada por dezesseis facadas. Outros crimes aconteceram com a orientação de Manson, e um traço característico dos crimes eram inscrições agressivas com o sangue das próprias vítimas na parede ou em objetos – “porcos safados” e a inscrição do próprio movimento – Helter Skelter. Após sucessivas investigações chegou-se a conclusão que todos os crimes que abalaram os Estados Unidos eram de autoria do bando dos Manson.

O próprio promotor responsável pela produção do filme e autor do livro que detalhou os acontecimentos praticados pela família Manson, relatou: O caso Manson foi e continua a ser único, mas não é o número de vítimas que o torna diferente e fascinante e sim os diversos outros elementos para os quais não há provavelmente nenhum paralelo: a preeminência das vítimas, os meses de investigação, o terror que dominou uma grande cidade, o motivo inacreditavelmente estranho dos assassinatos, a relação entre os Beatles e os crimes, a manipulação de um guru sobre seus seguidores de forma a não deixar nenhum traço de remorso após a execução de crimes tão bárbaros. Todos estes fatores se combinam para fazer de Manson o mais terrível assassino da história americana.

Partindo para uma análise do formato fílmico temos em Helter Skelter uma produção pautada na narrativa de flashbacks, principalmente na restituição dos crimes. Outros pontos positivos para a produção de Gray é a não exploração da violência como um produto banal apenas para agradar um público que tem preferência por este tema.

A história de Charles Manson ainda pode render outras manchetes para retratar sua vida no cinema. Inclusive, hoje com 74 anos pode sair penitenciária em breve.



Bruno Scuissiatto

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