25 de agosto de 2010

Todo bairro tem um louco


Em ocasião do aniversário de Paulo Leminski, 24 de agosto, é justo que o tema deste post seja sobre este “cachorro louco”. Nascido em 1944, faria, no último dia 24, 66 anos. Faleceu aos 45 anos, em 7 de junho de 1989 vítima de cirrose hepática. Foi, além de poeta, professor, tradutor...

Rato de biblioteca desde criança, Leminski se tornou um dos grandes poetas brasileiros por justa causa. Sua inovação poemática ao estilo haicai é digna de nota.

“um poema

que não se entende

é digno de nota

a dignidade suprema

de um navio

perdendo a rota”

Sua obra é extensa e seus poemas contêm um estilo ímpar repleto de trocadilhos e, em sua maioria, breves. Caprichos e Relaxos, Distraídos Venceremos, Catatau são alguns de seus livros publicados ainda em vida, este último polemicamente no mínimo inusitado: “O Catatau é o fracasso da lógica cartesiana branca no calor, o fracasso do leitor em entendê-lo, emblema do fracasso do projeto batavo, branco, no trópico.” ((LEMINSKI, Paulo. Catatau Curitiba: Travessa dos Editores, 2004. p.271)) ou ainda “Dentro do Catatau, o leitor perde a mania de procurar coisas claras.” ((LEMINSKI, Paulo. Catatau Curitiba: Travessa dos Editores, 2004. p.273))

Seus poemas traduzem textos longos em linhas breves, como este:

“a noite

me pinga uma estrela no olho

e passa”

Leminski também abordava em sua escrita a própria escrita, o que de fato aumenta ainda mais o seu valor dentro da nossa Literatura, como o caso do poema intitulado Razão de Ser:


Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Toninho Vaz se dedicou a escritura da biografia do poeta e se intitula O Bandido que sabia latim. Nela conta várias peripécias do autor desde sua infância: aventuras como professor, músico, desempregado. Leminski foi casado com a também poeta Alice Ruiz, com quem teve três filhos.

A homenagem é breve, como seus poemas, mas não poderia deixar de existir! Fica aqui uma superfície da obra do grande Paulo Leminski, que merece mergulho profundo!

“o pauloleminski

é um cachorro louco

que deve ser morto

a pau a pedra

a fogo a pique

senão é bem capaz

o filhodaputa

de fazer chover

em nosso piquenique”


Ana Carla Bellon

3 comentários:

Amanda disse...

amigo leminski...
companhia e inspiracao sempre...
vivas a sua sensata loucura e talento transgressor..

Kleber Bordinhão disse...

Ave!

Bruno Scuissiatto disse...

Leminski é um desses caras que faz a gente sentir orgulho de viver. A poesia é para sempre.