6 de março de 2010

Sabe quando você adora um filme tido como ruim?


E o tempo passa você entra na faculdade, começa a estudar história das religiões e filosofia das religiões e aí descobri que o filme é melhor do que você mesmo acreditava?!! Bom, se você não sabe como é eu sei. E faço deste post um tributo redentor a um de meus filmes favoritos:
‘O 13º guerreiro’ foi lançado em 1999, mas teve suas gravações iniciadas em 1997, passando por diversos problemas, como mudanças no roteiro e a troca do realizador do filme. Com todos os problemas, teve uma despesa de aproximadamente 160 milhões, e um fracasso de bilheteria em apenas 61 milhões em torno do mundo, ou seja, prejuízo de aproximadamente 100 milhões. Um desastre de filme, taxado à época pela crítica da veja como “cenas épicas em meio a um clip do sepultura”…
Este desastre da indústria cinematográfica foi baseado no relato do viajante árabe Ibn Fadlan, que no século X da Era Cristã percorreu o leito do rio Volga (hoje Rússia), entrou em contato com os conquistadores vikings oriundos da atual Suécia e que exercíam domínio sobre a região. Os relatos deixados por Ibn Fadlan nos fornecem amplas descrições de costumes políticos, religiosos e sociais enfim da cultura viking. O filme chega a retratar com certa semelhança o funeral de um rei e sacrifício da donzela que com ele deveria alcançar o Valhalla, primando por representar a cena livre de esteriótipos como a barbarização daquela cultura.
O roteiro do filme também se inspira no épico anglo-saxão Beowulf, cuja origem é escandinava e narra a aventura do herói (Beowulf) para livrar o reino da Dinamarca do monstro Grendel. Para tanto, é inserido no roteiro o personagem Buliwyf, que encarna o herói da história, se propondo a uma jornada do Volga até a Suécia a fim de livrar a região de um mal incomensurável, a ele se unem outros 11 guerreiros, e por uma predição do oráculo, ibn Fadlan, se torna, no filme, o 13º guerreiro, e é forçado a empreender a aventura. Um poeta, da civilização e do monoteísmo que aprende a ser um guerreiro bárbaro lutando contra seres míticos.
Ao chegar, os 13 guerreiros descobrem que o grande mal se trata dos Vendol, criaturas tidas como sobrenaturais, monstros metade ursos, metade humanos, que assassinam, mutilam e devoram suas vítimas. Aparecem quando há neblina e com eles vem uma gigantesca serpente de fogo. Os heróis estão diante de um inimigo presente na mitologia viking, e estranhamente, é com a ajuda da sabedoria da religião praticada então, aliada à visão de fora daquela sociedade que simboliza Ibn Fadlan, que vão descobrir a forma de derrotar o inimigo.
O filme não é maravilhoso só por retratar com naturalidade o paradigma distante da civilização desparecida dos vikings, mas também por representar no inimigo o paradigma cultural dos antepassados daqueles. Deixe eu explicar: Os Vendol são na verdade uma população de cultura neolítica, na qual existem aspectos da cultura paleolítica, especialmente em sua religião. Eles cultuam a Terra mater, vivem num mundo onde tudo é sagrado, desde a natureza até suas existências e todo o seu cotidiano.
Tanto é assim que vivem dentro de cavernas (o útero da deusa terra), e se vestem com carcaças de ursos, numa incorporação xamânica, que tem sua sobrevivência na cultura viking através dos Berserkirs, guerreiros que lutavam nus, portando apenas carcaças de lobos, imbuídos pelo deus Odin de uma fúria sagrada. São uma cultura tentando sobreviver em meio à “evolução” da humanidade, disputando território como qualquer outra sociedade faz até hoje.
O 13º guerreiro confronta, assim, os vikings com seus antepassados mais distantes, e expõe toda a incompreensão mútua que há entre duas culturas distintas. Uma das cenas mais significativas do filme é a última batalha em que o herói viking Buliwyf se confronta com o herói e líder dos Vendol. Antes de morrer Buliwyf entoa sua passagem ao outro-mundo conforme o costume. Ele diz:
“Abaixo, eu vejo meu pai,
Abaixo, eu vejo minha mãe,
E meus irmãos e minhas irmãs
E toda a minha linhagem de antepassados, desde o início.
E eles me chamam para tomar meu lugar junto a eles
Nos salões do Valhalla, onde os bravos vivem para sempre.”
Buliwyf não fazia idéia do quanto era real seu encontro com os antepassados…
Se alguém tiver curiosidade em ver umas cenas épicas em meio a um clipe do sepultura, este link mostra a cena da batalha e morte dos heróis:
http://www.youtube.com/watch?v=fhm7DMvapGA&NR=1

Ana Elisa

1 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pela excelente postagem. Concordo plenamente com todas as suas palavras. O filme é ótimo, tão bom que o assisto uma 3 ou 4 vezes por mês, juntamente com Cruzadas, Lord of the Rings e outros que completam minha videoteca particular.